O Brasil é do Senhor Jesus!
É o que a maioria das igrejas profere em tom profético em
suas acaloradas reuniões. Olhando para o crescimento espantoso do evangelho nas
últimas décadas, isso não nos choca. Estamos sempre entre os primeiros países
mais católicos do mundo (o catolicismo é uma religião cristã); estamos sempre
entre os lideres no quesito “mais evangélico do mundo”, enfim, temos um
território bem demarcado. Será? Em alguns momentos acredito haver um certo
equívoco na frase “o Brasil é do Senhor Jesus”. Será que não podemos dizer que
o Senhor Jesus é brasileiro? Ou é o que muitos gostariam. Um abrasileiramento
de Cristo. Pelo que parece sim. O evangelho tomou algumas proporções dentro da
nação que assustam qualquer analista histórico, sociólogo, teólogo, enfim
muitos “ólogos” ficam apavorados com o que acontece por aqui. Precisamos fazer
uma pergunta muito clara: a igreja cristã (principalmente a de origem
protestante: tradicionais, pentecostais, neopentecostais [?]) alterou a cultura
brasileira ou foi alterada por ela? Assimilou ou foi assimilada? Será que assimilamos mesmo o “jeitinho
brasileiro” de ser quando deveríamos modificar o “ethos” nacional? Entende-se
cultura como o sistema de comportamentos aprendidos, idéias e produtos que
caracterizam uma sociedade. O grande problema começa com o tanto de
denominações que temos dentro deste país tropical, abençoado por Deus (e bonito
por natureza... é claro). São tantas “placas” dizendo que o Brasil é do Senhor
Jesus (?) que não sabemos pra onde correr. Tem igreja pra tudo que é tipo e
gosto. Outro dia, aqui mesmo em nossa cidade, olhei pra uma placa de igreja e
identifiquei um nome bem adequado para a ocasião (eram quase 22h, momento em
que inicia a serração no inverno em regiões mais elevadas): “Nevoeiro de Fogo”.
Achei incrível... quanta imaginação. E o detalhe, haviam pessoas lá
“cultuando”. Isso me aponta pra um protestantismo pluralista, eclético e com
muitas caras. Mas cara brasileira mesmo tem o movimento neopentecostal (IURD,
IIGD, ISNT, IMPD, entre outras). Que mistura de candomblé com protestantismo. A
impressão que se tem em muitas dessas reuniões “evangélicas” é que você entrou
no terrero errado. É uma mistura de sal grosso com rosa ungida com entrevista
de entidades demoníacas que você precisa ver. Muitas dizem que isto é poder de
Deus. (Ainda fico com as palavras de Paulo em Rm 1:16 - Eu não me envergonho do
evangelho, pois ele é o poder de Deus para salvar todos os que crêem...
Evangelho é boas novas. Boas notícias. Esta boa notícia fala da salvação em
Jesus Cristo. Isso sim é poder. E não “enxergo” em momento algum Paulo vendendo
lenço, rosa, meia (ahhh, R$ 128,00 o par, ungida, é claro), oléo de unção, nada
disso. Nem de graça Paulo fazia esse tipo de barganha. O evangelho não precisa
de alicerces baratos para sustentar a fé de ninguém. A fé está em Jesus). Sem
falar na roupa do pastor: totalmente branca. Parece ou não parece uma reunião
afro. Claro que sim. E esse tipo de movimento tem crescido assustadoramente.
Templos suntuosos, “ministérios” poderosos, verdadeiros impérios. O discurso é
muito bom: temos que atender a demanda de nosso tempo. Claro. E o nosso tempo é
marcado pela comercialização, inclusive e principalmente da fé. Compramos tudo.
Compramos o perdão com algumas notas que são colocadas no gasofilácio (nome do
local onde colocamos as ofertas); compramos a cura quando adquirimos um objeto
ungido; compramos o pastor quando oferecer um churrasco. Enfim, compramos tudo.
O momento é de crise. E grande! Esse é nossa realidade. Muitos chamam isso de
contextualização, outros de sincretismo religioso, outros de aculturação, mas
prefiro ficar com o termo usado por Gedeon Alencar: protestantismo tupiniquim.
*Esse texto foi uma breve síntese de alguns capítulos do
livro de Gedeon Alencar, Protestantismo Tupiniquim, Editora Arte. Muitas frases
contidas no texto são réplicas dos originais constantes no livro.
Boaz Alberto
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