Contraditório




O que temos visto com muita frequência e muito orgulho são pessoas que se autodenominam  evangélicos. (O termo crente já saiu de moda. Ele está sempre muito ligado aqueles pessoas que andavam com indumentárias e discurso muito fora de contexto. Mas o termo evangélico está muito atual. Atualíssimo pra ser bem verdadeiro). Tem um montão de gente entrando no evangelho. E isso é bom. Melhor ainda é quando esse evangelho entra dentro deles e traz mudanças perceptíveis na conduta diária. O melhor de tudo é que quando me denomino evangélico estou dizendo que sou portador de boas novas. Ou seja, minha vida agora é condutora das boas notícias de Deus que foram-me entregues através do reconhecimento e aceitação do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário (pra muitos isso que falei agora é novidade). Logo meu maior dever é levar essas boas notícias onde quer que for, para quem quer que seja. O problema se concentra em unir essa vida de mudanças a uma série de atividades rotineiras como por exemplo o trabalho.  Nem sempre meu trabalho ou meu modo de conduzir meu trabalho combina com o evangelho. Existe um número sem precendentes de pessoas que ainda não mudaram de trabalho ou o modo de trabalhar depois que vieram para o evangelho. Não podemos aceitar, por exemplo, que moças africanas continuem prostituindo-se (em alguns países africanos prostituição é profissão com carteira assinada) depois de entrar no evangelho como se isso fosse normal. Evangelho não combina com trabalho desleal, desonesto e escravizador. Pior ainda são aqueles que tem um trabalho aparentemente digno mas usam de certas artimanhas para se darem bem diante de seus clientes ou companheiros de trabalho. Aqui entra um fenômeno cultural nosso: o jeitinho brasileiro. Pena que pra Deus o jeitinho brasileiro não funciona. Não estamos acostumados a glorificar a Deus em nossa vida profissional. Espiritualizamos a vida de fé e a separamos (literalmente) da vida profissional. Nossa conduta geralmente é diferente: dentro da igreja glorifico a Deus com todo meu ser; no meu trabalho uso minhas artimanhas para ganhar o sustento diário. O caso extremo acontece naqueles casos que usam essas falcatruas e depois ainda tem coragem de testemunhar que Deus abençoou. Que Deus abriu a porta. Não sei que porta é essa, mas é estranho Deus abrir portas desse jeito. Somos contraditórios. Entramos no banco dos réus por condutas muito bem pensadas. Sou cristão no senso, mas acabo vivendo uma vida sem a menor intervenção natural de Deus. Dá-me a impressão que idolatramos Deus. É como Israel no Antigo Testamento: Deus era visto como essencial somente dentro do templo. Fora ou longe dele, Deus se tornava distante e desinteressado. A contradição aumenta nos relacionamentos interpessoais. A regra de ouro de Jesus não se aplica mais em momento algum. Fazer aos outros aquilo que gostaria que me fosse feito? Sem condição. Leva muito tempo pra que as pessoas percebam essa minha conduta abnegada e cristã. Sabemos exatamente o que Deus requer de nós, mas não damos a mínima importância pra isso. Temos boa doutrina, mas vida errada. Temos conhecimento, mas desprezamos o amor. Temos temor, mas falta-nos reverência. Temos uma fé antropocêntrica, centrada no homem e não em Deus.
 

Boaz A. Sperber

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