Eu também não te condeno
Era
a festa dos Tabernáculos. A data era de muita importância para os judeus, pois
lembrava a importante data em que o povo morou em tendas no deserto sendo
sustentado por Deus após o milagroso episódio do Êxodo. No último dia acontecia
uma importante cerimônia que consistia em procissão até o tanque de Siloé onde
água era tirada do tanque, colocada em jarros de ouro e logo depois todos
caminhavam rumo ao templo. Esse cerimonial apontava para a água fornecida por Deus
em Êxodo 17, no deserto de Sim. Acontece que Jesus toma a atenção de todos os
que participavam do cerimonial quando se coloca de pé e clama dizendo que ele
era a água da vida e todo aquele que bebesse dessa água jamais tornaria a ter
sede. Que escândalo! Jesus estava dizendo que ele era a água que Deus manda pra
matar a sede em meio ao deserto. Não somente isso, Jesus vai além quando diz
que jamais teriam sede depois de beber “dele”. Pra os fariseus bastava. Já era
demais. Esse episódio gera uma grande contenda entre todos e o que se queria
era arrumar uma forma de surpreender Jesus em algum delito grave. Como fazer
isso? Bom, o dia já estava declinando e era momento de descansar. Todos vão
para suas casas enquanto Jesus vai para o monte. Na madrugada do dia seguinte,
Jesus (como bom professor) está cedo nas escadarias do templo esperando a
multidão que ansiosamente ouviria seus ensinos. A multidão cerca Jesus para
ouvir suas palavras de vida e no meio do estudo, os fariseus aparecem com uma
mulher que foi supostamente pega em ato de adultério. Sim, pega em ato de
adultério. Algumas perguntas me surgem: 1. Como os fariseus podiam saber
exatamente onde estava acontecendo um adultério? 2. Se soubessem onde havia um
adultério, como poderiam saber exatamente o momento de consumação do ato? 3.
Onde está o homem que adulterava com a mulher? Na Lei, ambos devem ser
apedrejados e mortos diante de comprovação da acusação. Alguns fatos são
importantes: de acordo com os rabinos a pena para este crime era dura e havia
classificações de acordo com o grau: a. adultério com mulher casada:
apedrejamento; b. adultério com filha de sacerdote: queimava-se a pessoa; c.
adultério descoberto no ato das núpcias do casamento: estrangulamento. Apesar
destas duras penas previstas no código penal, os rabinos queriam que isso
ficasse apenas na ordem teórica. Na ordem prática essas penas não eram
aplicadas. O criminoso só era realmente sentenciado a receber a pena máxima
quando ele dizia o seguinte: Eu sei e não me importo; eu assumo as
consequências. Caso isso não fosse ouvido, como forma de substituir a pena
máxima era usado o açoite. O fato era
que uma mulher estava sendo humilhada em local público diante de muitas pessoas
e Jesus seria o responsável por estabelecer um julgamento. O que fazer? Se
autorizasse o apedrejamento, Jesus estaria se comprometendo com as leis romanas
e seria preso por autorizar a morte de uma pessoa, ato somente autorizado pelo
governo romano. Se liberasse a mulher estaria infligindo a Lei de Moises e
arrumaria um sério problema com os fariseus. Enfim, as pedras estavam nas mãos
dos fariseus de uma forma ou de outra. Quem seria apedrejado? Jesus é claro.
Jesus calmamente escreve na poeira sobre as escadarias e depois de muita
insistência por parte dos fariseus, se dirige aos “acusadores” autorizando
jogar pedras, porém, depois de uma análise: atire a primeira pedra aquele que
não tem pecados. O que se vê é uma cena poderosa: todos, começando dos mais
velhos e chegando aos mais novos, vão largando suas pedras e indo embora. Jesus
está de cabeça baixa e continua escrevendo na poeira. A mulher adúltera está
completamente constrangida. Constrangida? Sim, constrangida. Mas, com o que?
Com o amor de Jesus. Ninguém trata uma pessoa pega em ato de adultério dessa
forma. Esse fator se expressa de forma incrível quando Jesus percebe que ela
não havia ido embora. Ela ficou justamente no local onde fora colocada no
início da acusação. E por que não aproveitou e foi embora? Porque dentro do seu
coração estava acontecendo uma mudança imensurável. Ele estava tendo um
encontro com alguém que não tem prazer de apontar o dedo e citar pecados, mas
que tem prazer de dizer: Eu também não te condeno. Jesus era o único que
poderia acusar e condenar aquela mulher e não o fez. Mas como? Ela não era
adúltera? Sim. Mas não era mais necessário apontar os defeitos daquela mulher.
Isso já foi feito através dos fariseus. O que Jesus faz é constrangê-la a mudar
de vida através de seu profundo amor. Ahhh, Jesus concluiu: Não peques mais.
O
que me faz mudar de vida e abandonar a vida de pecado é o grande amor de Deus.
Ele me constrange a uma mudança de atitudes.
Boaz A. Sperber
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